Você já deve ter idade suficiente para entender
cada frase aqui escrita. Cada conselho. Cada desabafo meu. Provavelmente eu te
entreguei esta carta acompanhada por um bilhete, pedindo para que leia-a
sempre que estiver sentindo a minha falta ou com raiva de mim, vai saber o que
se passa nessa sua cabeça agora. Bom, eu passei boa parte dos meus dias
brigando com a minha mãe por coisas pequenas que para mim sempre pareceram ter
uma importância absurda, maior que qualquer outra prioridade. Se você puxar por
mim, provavelmente nossa relação serão/são assim. Meu anjo, independente do que
está acontecendo nesse nosso futuro (quer dizer, presente) que eu ainda não sei
qual é, só quero que saiba: te amo muito, mais que tudo, embora ainda não te
conheça. Mas eu já posso confirmar que desde o momento em que você nasceu eu só
penso em você, tudo agora se resume à você. Mudou minha vida por completo, para
melhor. Bem melhor. Sei disso sem nem ter passado por isso. Ainda...
Você talvez possa ter sido fruto de um "acidente", assim como
eu fui. Talvez tenha sido planejada e por muito tempo desejada. Mas de verdade,
isso não importa. Não filha, não importa. Você é linda e tem saúde, isso sim é
o que tem importância. Independente se foi um acidente ou não, eu e seu pai
iremos te amar. Desde o momento em que pôr os olhos em você, de te pegar no
colo e ouvir o teu choro, até o meu último suspiro de vida. O para sempre não tem o poder da eternidade,
mas é longo o bastante para durar uma vida toda. Uma vida pela qual
eu sonho todos os dias, onde eu possa ter a minha família por completo ao meu
lado. Onde a pessoa mais importante virá ao meu encontro: você, minha
querida.
Provavelmente seu nome será Alice. Talvez você não goste dele, mas eu amo-o e
fique quieta que quem manda aqui sou eu. Deve estar rindo agora por minha
rebeldia. Acho que se parecerá comigo nesse aspecto, afinal, passaremos muito
tempo juntas (olha, não quero bancar a mãe chiclete, mas quero passar o máximo
de tempo possível contigo!), tempo suficiente para que pegue minhas manias e
bordões.
Talvez eu não te deixe sair sábado que vem para aquela festa que você
tanto me pediu, não é maldade, minha filha. Não é implicância e nem falta de
confiança. É medo. Insegurança. Sei que irá ficar zangada e baterá a porta do
quarto o mais forte possível só para me atingir e me fazer se sentir a pior mãe
do mundo por não lhe deixar ter a vida que você quer neste momento. Eu passo
por isso nesse meu presente, meu pai não me deixa sair para festas sozinha, e
quando saio é sempre com a presença da sua vó. Triste, né? Nem com o meu
namorado ele deixa, acredita? E é porque ele nem bebe e nem fuma, imagina se
fizesse tudo isso e mais além... Sabe Alice, eu nem entendo direito o porquê de
tanto ciúmes e "prisão" vinda deles, mas só de pensar em você aos 15,
começo a imaginar. Ai, haja aspirina... Espero que não me dê muito trabalho e
não faça nada escondido, porque o que eu mais odeio no mundo são coisas feitas
às escondidas. Acredite, já quis fazer muita besteira nessa vida, mas pensei
muito antes de dar cada passo até chegar aqui. Mas de tanto ficar em casa
acabei me apegando aos livros, leio muitas crônicas e romances depressivos e
não saio escondido nem minto quando digo que vou a tal canto, e mesmo assim não
depositam confiança em mim e acabo sendo "a rebelde" daqui de casa.
Durante as brigas com a sua avó ela sempre me diz que eu não entendo o
motivo de tanta proibição, que só passaria a ter conhecimento de seus
sentimentos quando eu me tornasse mãe. Dito e feito. Hoje entendo cada
preocupação dela, cada choro quando eu a dizia que não amava-a por ter tomado
uma atitude que eu não tenha gostado ou por me obrigar a arrumar a casa com
ela. Agora deve ser eu que choro, só que por você, aposto. Talvez eu seja como
ela era: dramática, preocupada e carente da sua atenção. Todas as mães são. Até
a mãe daquela sua melhor amiga do colégio, só que ela é do jeito dela e eu do
meu. Você sentiria fata se eu não fosse exatamente assim. Se sentiria só.
Acredite em mim.
Nossa, falando assim até me sinto uma mulher de 30 e poucos, sendo que
ainda nem atingi a maior idade. Ainda tenho quinze, quase dezesseis. Não
sou séria como aparento ser, não agora. Sou como você, eu sou você; só que numa
versão de 2013. Sonhadora, indecisa e confiante. Filha, depois lhe escrevo
mais cartas te dando conselhos de como não cometer os meus erros. Te amo muito,
meu anjo. Eu carrego comigo um amor um indescritível de tão grandioso que sinto
por ti.
Com todo o meu amor,
Sua mãe.
Que amor. É uma linda carta e traria uma felicidade enorme lê-la daqui uns anos. Adorei <3
ResponderExcluirBeijão, Unsaid Things