26/03/2013

Carta para: minha futura filha

Você já deve ter idade suficiente para entender cada frase aqui escrita. Cada conselho. Cada desabafo meu. Provavelmente eu te entreguei esta carta acompanhada por um bilhete, pedindo para que leia-a sempre que estiver sentindo a minha falta ou com raiva de mim, vai saber o que se passa nessa sua cabeça agora. Bom, eu passei boa parte dos meus dias brigando com a minha mãe por coisas pequenas que para mim sempre pareceram ter uma importância absurda, maior que qualquer outra prioridade. Se você puxar por mim, provavelmente nossa relação serão/são assim. Meu anjo, independente do que está acontecendo nesse nosso futuro (quer dizer, presente) que eu ainda não sei qual é, só quero que saiba: te amo muito, mais que tudo, embora ainda não te conheça. Mas eu já posso confirmar que desde o momento em que você nasceu eu só penso em você, tudo agora se resume à você. Mudou minha vida por completo, para melhor. Bem melhor. Sei disso sem nem ter passado por isso. Ainda...314841_369396799800157_533650126_n_large

Você talvez possa ter sido fruto de um "acidente", assim como eu fui. Talvez tenha sido planejada e por muito tempo desejada. Mas de verdade, isso não importa. Não filha, não importa. Você é linda e tem saúde, isso sim é o que tem importância. Independente se foi um acidente ou não, eu e seu pai iremos te amar. Desde o momento em que pôr os olhos em você, de te pegar no colo e ouvir o teu choro, até o meu último suspiro de vida. O para sempre não tem o poder da eternidade, mas é longo o bastante para durar uma vida toda. Uma vida pela qual eu sonho todos os dias, onde eu possa ter a minha família por completo ao meu lado. Onde a pessoa mais importante virá ao meu encontro: você, minha querida. 

Provavelmente seu nome será Alice.  Talvez você não goste dele, mas eu amo-o e fique quieta que quem manda aqui sou eu. Deve estar rindo agora por minha rebeldia. Acho que se parecerá comigo nesse aspecto, afinal, passaremos muito tempo juntas (olha, não quero bancar a mãe chiclete, mas quero passar o máximo de tempo possível contigo!), tempo suficiente para que pegue minhas manias e bordões. 

Talvez eu não te deixe sair sábado que vem para aquela festa que você tanto me pediu, não é maldade, minha filha. Não é implicância e nem falta de confiança. É medo. Insegurança. Sei que irá ficar zangada e baterá a porta do quarto o mais forte possível só para me atingir e me fazer se sentir a pior mãe do mundo por não lhe deixar ter a vida que você quer neste momento. Eu passo por isso nesse meu presente, meu pai não me deixa sair para festas sozinha, e quando saio é sempre com a presença da sua vó. Triste, né? Nem com o meu namorado ele deixa, acredita? E é porque ele nem bebe e nem fuma, imagina se fizesse tudo isso e mais além... Sabe Alice, eu nem entendo direito o porquê de tanto ciúmes e "prisão" vinda deles, mas só de pensar em você aos 15, começo a imaginar. Ai, haja aspirina... Espero que não me dê muito trabalho e não faça nada escondido, porque o que eu mais odeio no mundo são coisas feitas às escondidas. Acredite, já quis fazer muita besteira nessa vida, mas pensei muito antes de dar cada passo até chegar aqui. Mas de tanto ficar em casa acabei me apegando aos livros, leio muitas crônicas e romances depressivos e não saio escondido nem minto quando digo que vou a tal canto, e mesmo assim não depositam confiança em mim e acabo sendo "a rebelde" daqui de casa.

Durante as brigas com a sua avó ela sempre me diz que eu não entendo o motivo de tanta proibição, que só passaria a ter conhecimento de seus sentimentos quando eu me tornasse mãe. Dito e feito. Hoje entendo cada preocupação dela, cada choro quando eu a dizia que não amava-a por ter tomado uma atitude que eu não tenha gostado ou por me obrigar a arrumar a casa com ela. Agora deve ser eu que choro, só que por você, aposto. Talvez eu seja como ela era: dramática, preocupada e carente da sua atenção. Todas as mães são. Até a mãe daquela sua melhor amiga do colégio, só que ela é do jeito dela e eu do meu. Você sentiria fata se eu não fosse exatamente assim. Se sentiria só. Acredite em mim.

Nossa, falando assim até me sinto uma mulher de 30 e poucos, sendo que ainda nem atingi a maior idade. Ainda tenho quinze, quase dezesseis. Não sou séria como aparento ser, não agora. Sou como você, eu sou você; só que numa versão de 2013. Sonhadora, indecisa e confiante. Filha, depois lhe escrevo mais cartas te dando conselhos de como não cometer os meus erros. Te amo muito, meu anjo. Eu carrego comigo um amor um indescritível de tão grandioso que sinto por ti. 

Com todo o meu amor,
Sua mãe. 

Um comentário:

  1. Que amor. É uma linda carta e traria uma felicidade enorme lê-la daqui uns anos. Adorei <3
    Beijão, Unsaid Things

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