06/01/2014

Sobre Marasmo, 2014 e eu que continuo Santiago ou qualquer outro


Meu mal é achar que sei tudo sobre o mundo, mesmo nunca tendo saído do quarteirão, é esperar demais onde a atitude é de menos, é não conseguir ficar com muita raiva de ninguém, meu mal é achar que sei tudo sobre ela e achar que ela também acredita saber tudo sobre mim.

Ninguém sabe, pra ser sincero.

Já me chamaram de vários nomes, já fui Holan, já tive bafo de Bukowski e já cheguei até a mandar quadros de Banksy sem nenhum fundamento. Pra em 2014 descobrir que sempre fui Santiago e que os outros nem sempre foram coadjuvantes. Talvez eu tenha sido. Durante os outros 20 anos. E eu já recebi tantas cartas dos meus amigos, me escrevendo sobre como São Paulo é a maior cidade, e que os outros cantos já são tão perigosos. Eu continuo no mesmo lugar, porque minha mistura de gênero me enfraqueceu quando o assunto era lutar. Nunca lutei por nada, nem conquistei diplomas ou continentes. Nem em jogo, nem em sonho. Sou o famoso desistente do bloco 5. Tudo bem, desisti tanto que hoje insisto, e não deixo que desistam de mim.

Isso faz sentido?

O que eu queria mesmo era ser auto-suficiente.

Eu já conheci muita gente. Conheci Seu Cláudio, vizinho de minha família que tarde da noite me chamava pra cantar e falar sobre Marcela, conheci a boca de Ana, que até hoje suplica pela minha. Eu conheci a historia de Noan, sobre barcos e astronautas. Conheci Bidu e seus crochês, além de Adèle e seu amor azul. Conheci gente demais até, mas nada que me fizesse ter vontade de largar meu lar.

Eu já fiz tanto também. Já escrevi uma carta para ex namorada perguntando se era ela que conseguia fazer os biscoitos iguais de minha avó, e se não fosse, se podia por favor tentar. Eu já sofri mudanças, tantas que hoje eu só peço pra ser o de antes. É como se, eu aceitasse todos falando mal de mim. Pois sei a coisa ruim que me tornei, e as vezes até eu mesmo falo. Eu já prometi a Ana que escreveria sobre nós todos os dias, até o último de minha vida. E hoje eu luto para não escrever sobre ela a cada segundo. Eu já fiz muito. Mas pouca coisa deu mesmo certo.

E agora eu quero me mudar para San Pablo. Continuar meu marasmo. Continuar a escrever sobre Ana e a pensar no Tio Cláudio. Ah, eu quero conhecer Stephen King, e falar a ele como protagonizou meus maiores ataques suicidas. Ah, eu quero tanto. Dentro de mim ainda tenho sonhos de adolescente bobo, que nunca viveu um aperto de mão. Tudo bem por mim, mas a partir de agora vai acontecer.

Eu sinto falta de Brasília e das loucuras de 2011. Nada é mais como naquela época, e me contaram que depois de minha saída a rua foi interditada. O motivo ninguém sabe, mas tudo parou e até hoje não voltou. Aquela sim é uma cidade, e desculpa em nome dos meus outros amigos que se espalharam por São Paulo: Nenhum vento é tão forte quanto o de Brasília, e nenhum por do sol faz tanto sentido. Foi lá que comecei a vê, dei meu primeiro passo sobre a falsa areia e até hoje consigo vê o rosto de Ana, paralelo a lua. E se você conseguir encontrar felicidade em algum canto que não lá, me diga como.  Mas deixei essa vida para trás, hoje não sei exatamente o que está pela frente mas não importa. Preciso pensar mais vezes antes de me achar o suficiente para aquela cidade.

Olha, depois de 20 textos reclamando de tudo, eu descobri finalmente o que eu entendo. Eu entendo de Naomi, Ana e Marcela, entendo de Ross que escrevia para Rachel chorando tarde da noite e entendo o lado de Woody Allen que preferiu fugir com a jovem, eu entendo talvez tudo que esteja relacionado com mulher, durante que ela não esteja relacionada a mim. E é isso até hoje. Foi isso que aprendi até 2014, e essa minha vida de não saber quem sou exatamente. Não há problema.  Não sei qual vai ser o fim desse texto, mas eu posso dizer: Odeio esperar que ele chegue.

3 comentários:

  1. Outro texto perfeito Bianca! Continua postando sempre, não sei mais viver sem seus dilemas pessoais!!

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  2. Que texto legal, gostei. Vou passar a acompanhar aqui !

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    Nunca tinha visitado o blog, mas já estou amando <3

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