05/03/2014

1001 pessoas: 01. A Peixe


Já havíamos vivido grandes desilusões amorosas quando nos conhecemos. Já tínhamos um laço de respeito e igualdade que só nós duas entendíamos. Nós conversávamos muito através de textos postados aqui e ali. Indiretamente, eu sentia a angustia dela, e ela a minha tristeza. E foi assim por um bom tempo, sem diálogos diretos, apenas desabafos de duas mentes confusas e dois corações conturbados; ambos se encontraram.

Nossa história parece ser triste e melancólica, mas não é. Somos felizes por termos uma a outra. Por sabermos que podemos ir dormir sossegadas, porque tem alguém há poucos quilômetros de distância que se importa de verdade conosco, que nos ama, que é real. Somos felizes no meio de tantos problemas sentimentais. 

A Peixe foi uma daquelas descobertas inesquecíveis que fazemos de vez em quando durante a vida. Ela me encantou com tamanha sabedoria. Nos acolhemos e compartilhamos nossos sentimentos exagerados numa tarde fria de sábado, numa livraria. Meu lugar preferido na cidade, acho que o dela também. 

Ela nunca soube lidar consigo mesma. Nunca enxergou direito o quão boa é. Sempre se culpa e pede desculpas muitas vezes por coisas que tem total desconhecimento. Ela... é incrível! Não é muito boa em física, mas entende mais da vida que muita gente vivida por aí. A Peixe me ensina coisas sobre o amor que idealizamos e o amor que a realidade nos oferece, e que aceitamos. Ela me alerta dos erros que já cometeu, com um medo de que eu a abandone, que eu me assuste, que eu tenha medo de seu passado um pouco errado. Ela erra, conserta e erra de novo  acho que é pra se certificar de que aquilo é realmente errado, de todas as maneiras.  

A sua ingenuidade a torna doce, enquanto sua educada malícia a faz ter jeito de mulher vivida. Foi criada por uma família dentro dos padrões tradicionais, isso dificultou muito a aceitação deles por sua opção sexual. Sempre que ela me conta sobre alguma discussão que teve com o pai, a avó, a mãe ou sei lá quem, eu paro e penso: "Eles deveriam ler os textos dela, mergulhar de cabeça nos pensamentos, problemas, princípios e conceitos de outra pessoa é sempre uma delícia. Conhecer a alma de alguém é uma das melhores sensações do mundo. Será que eu deveria ligar para algum deles e fazer essa indicação de leitura extraordinária? Poxa, eles tem uma ótima escritora debaixo de seus tetos, por que não enxergam isso? Em matéria de sentimentos, por que as exatas tem que ser mais importantes? Números são concretos, palavras são pessoas. Pessoas sentem, concretos são sólidos. Pessoas vivem, sólidos apenas existem."

Esse pequeno peixinho de cor azul  nasceu em um aquário, mas hoje vive num saco plástico, esperando conhecer o mar. Essa cidade não é para ele, ela é pequena demais para seus nados nada sincronizados.

Eu amo o modo como ela encara o mundo todas as manhãs. Admiro a forma como acolhe e cuida de corações alheios, mas não entendo como o dela é tão maltratado. Ela sente intensamente, vive pra valer. Pra saber que no final, tudo fica bem. 

Eu não sei o por quê de nunca ter escrito antes para Bianca. Juro, eu não sei. Logo ela, uma das poucas pessoas que eu mais amo nessa vida complicada, no meio de tantos dramas diários, tantos problemas, tantos "eu e você". A nossa história é longa, confusa, louca. Nosso amor vai muito mais além do que as pessoas estão acostumadas a ver. Nosso clichê é diferente. Gosto de ajudá-la com as pretendentes, e acho engraçado o ciumes que ela sente quando falo do meu namorado. Eu cuido dela como se fosse uma filha, e a amo como se fosse a minha vida. Só Deus sabe o quanto eu me preocupo com essa garota, eu tenho medo dela. Em horas de dor, é capaz de cometer qualquer loucura maior. Isso é a única coisa nela que me assusta. Às vezes penso que a minha existência é insuficiente em sua trajetória, mas creio eu que não. 

Sou cúmplice de alguns erros pelos quais nos arrependemos, onde magoamos terceiros. Eu sou parcialmente culpada por certas cicatrizes feitas em seu coração, não que eu a tenha magoado. Longe disso. Você me entende? A gente roubou o riso de alguém, mas não foi por maldade, era amor. É amor! E no meio desse tiroteio, acabei acertando ela, eu a socorri. Pedir perdão nunca foi o meu forte, mas reconheço meus erros (ela me ensinou como encará-los). Ela entende, foi culpada por isso tanto quanto eu. 

Um erro meu leva à ela, e um dela leva à mim. Estamos interligadas. Há uma conexão mental total. É mais forte que nós, não conseguimos controlar e ainda não entendemos como que eu pude ir dormir naquela noite com uma sensação ruim que me fazia pensar nela, e ela acordar no dia seguinte sentindo o mesmo, com o meu nome no pensamento. Não importa, uma dia a gente descobre isso. Acho que é um bom sinal, somos realmente melhores amigas. Das fortes, estranhas. Somos tão simples quanto complicadas. A gente escreve. 

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