08/08/2013

Parque das lembranças

mała codzienność

Chego na praça, procuro logo o meu banco de madeira onde costumo me sentar sempre que venho alimentar os pombos. Olho em volta e constato que não há quase ninguém; somente uma meia dúzia de mães e babás com suas crianças brincando no parquinho logo ali na frente. O dia está calmo, observo. O barulho dos pássaros predomina no alto das árvores centenárias, lembro-me bem de quando era criança e vinha brincar e dar pedaços de pães aos pombos com meu pai. Homem bom, foi-se embora sem ao menos se despedir direito; me deixou, me largou. Seguiu sua vida de soldado deixando mamãe para trás para cuidar de mim sozinha e o pior: sem tempo determinado, sem data pra voltar, sem pai. 

Eu era muito pequena mas ainda me lembro bem dos biscoitos que minha mãe fazia todas as tardes junto com a Lúcia, uma velha amiga. Nós três nos sentávamos em nossa varanda branca com tijolos grossos na parede, eu sempre ficava na cadeira de balanço, dando um duro para conseguir alcançar os pés no chão em uma tentativa sempre fracassada. Minha mãe sempre disfarçava um olhar caído e uma expressão cansada com um belo sorriso branco e contagiante que me fazia sentir uma sensação boa, tão boa quanto inexplicável. Ela pensava que me enganava, só pensava... meus olhos enxergavam além de seu rosto, eu podia ver sua alma ferida e faltando uma parte. Meu pai e eu éramos tudo que ela tinha, nós éramos toda a sua família.

A perda de meus avós foi difícil em sua vida, a aceitação de que os entes queridos se foram para todo o sempre era de se partir o coração - no começo pensávamos em encarar o ocorrido como uma viajem, eles logo voltariam, era só acreditar que sim e assim nós mesmos enganávamos uns aos outros na busca de algum conforto emocional com o uso da mentira -, a sensação de perda era comum onde morávamos, cidade pequena, todos se conhecem e se cumprimentam. Só que não dessa vez; nunca tinha passado por isso antes, perder alguém tão próximo e justo na infância era algo estranho, diferente e inesperado. Foi pior do que perder meus outros avós que moravam na cidade vizinha. Era um pesadelo acordar todas as manhãs e avistar da janela redonda e embaçada que havia em meu quarto, minha mãe checando a correspondência com uma lágrima preparada pra cair de seu olhar doce e azul à qualquer instante. Eu sabia que já havia o perdido para a guerra no momento em que ele ponhara os pés fora de casa, levando apenas uma trouxa de roupas e alguns utensílios necessários. Acenando e sorrindo, foi assim que ele se foi. Guardo até hoje a boneca de pano que me deu, a Duda. 


Gosto de vir nesse parque mesmo depois de tanto tempo, ele traz meu pai de volta em minha memória. Olho entre as árvores e me vejo correndo numa tarde amarela de outono, assustando os pombos com minha risada gritante, espalhando as folhas secas no chão e fugindo do meu pai que corria atrás de mim para fazer cócegas, como eu adorava. Hoje, olhando essas crianças com suas mães me dá uma saudade daquela época. Foram tempos difíceis, foram-se os melhores tempos, as melhores pessoas, os melhores momentos.

P.s: Essa crônica foge um pouco dos assuntos normais do blog porque ela foi fruto de um trabalho de redação no começo do ano.

Um comentário:

  1. Lindo texto, parabéns. Lembranças o que seria de nós sem elas? Apenas uma bolha vazia e triste. www.esvettylano.blogspot.com.br

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