21/04/2014

03. Aquele tal de voluntário


É incrível como a gente se engana quando tentamos enganar nossos sentimentos para tapar as rachaduras formadas no coração. Fendas essas causadas pela dor de um outro amor. Lembro-me bem quando estava aos prantos, recordo direitinho de cada palavra lida e de cada conselho amigo. "Só se cura um amor com outro, tudo no seu tempo", foi o que ouvi dizer. A real é que todo mundo é substituível, convenhamos. Quando um pai ou mãe fica ausente, há quem preencha a vaga. Quando um amigo se distancia, há outro que chega. Quando uma paixão te deixa, tem a próxima que te faz levantar a cabeça... e te beija. E foi nesse desespero por colo que acabei aceitando-o. Ele se voluntariou, metaforicamente falando, e eu não neguei, me entreguei rapidamente aos poucos. 

O Voluntário cumpriu com seu dever, me fez esquecer quem já havia me esquecido (ou estaria ele, meu passado, fingindo?). Não importa. Vivi uma felicidade gritante por um mês. Só um mês e nada mais. Ele falhou ao me deixar pior do que quando me encontrou. Praticamente, de nada adiantou. 

É, leitor, leitora, o mundo dá voltas e a vida arranca da gente o que, aparentemente, é o melhor para nós. E eu, boba como sou, pensei que finalmente poderia relaxar, me entregar, confiar. Ele era do tipo que me fazia querer se espelhar. O cara pensava como eu sobre diversos assuntos, sabia beber, ria de tudo. Cativava muito. 

Conversávamos de muito sobre tudo. Era bom. Ele fora um amigo muito bom. Mas assim como eu, Fulano, Beltrano, Ciclano e você, ele tinha um passado - lindo por sinal. Tão lindo que fez com que nosso presente virasse pó, e só. Em questão de minutos vi minha paz virar um inferno. Minhas pernas tremeram, minha vista escureceu, meu estômago gelou, enquanto eu tapava meus olhos com as mãos ainda trêmulas e pálidas, que tentavam esconder aquela expressão "estou mais uma vez dilacerada no peito, preciso me recompor, me dê um tempo, e vento". E tudo isso graças a uma curta frase, composta por sete palavras: "Estou confuso em relação aos meus sentimentos". Essa, meus caros, é a sensação de ter um coração espancado, caso você ainda não saiba. Mas não quero dramatizar as coisas, essa não é uma história triste. Triste seria se alguém tivesse morrido. E, bom, ninguém nunca morreu de amor. Talvez há quem morra por amor, mas nunca "de". 

Confesso. Chorei a semana toda, comi saudade e bebi distância; mas como tudo na vida passa - até o teu "eu te amo" sincero - a dor passou. Continuo mantendo-o em tudo que é rede-social. Vejo fotos de seu namoro, o tal passado lindo no qual comentei, que de passado não tem mais nada, ela é totalmente presente. E por mais estranho e maluco que pareça, eu sempre sorrio para as fotos dos dois, e curto-as com gosto. Amor bonito é pra ser admirado e elogiado, não? Claro que sim! 

Nunca o quis de volta, aquele medo que sentia de perdê-lo já passou. Aliás, ninguém nunca perdeu o que nunca foi seu. Hoje sei que Ele tomou a decisão certa, acho que eu não seria capaz de fazê-lo tão feliz quanto ela o faz. Não que eu esteja me menosprezando, é que tem gente que parece ter sido feita especialmente pra gente. Sinto, só agora, que aquela reciprocidade toda, não fora tão mútua quanto pensávamos que era. 

Sim, era amor. Não, não durou. Respeito? Claro que restou!

O nosso mês foi bom, concorda, moço? Não lamento pelo fim. Muito pelo contrário, que bom que terminou. Concorda? Concorda. Olha com quem nós estamos. Namoramos com pessoas que parecem ter nascido para nos transbordar com tamanha alegria e amor. Repare onde chegamos. Separados. Eu cá e tu lá. A vida é mesmo uma filosofia sem começo nem fim. Sábia, atrevida, dura, gentil. 

Do Voluntário eu não guardo mágoas, só aprendizado. Sou bem grata, até. Às vezes dá saudade das conversas. Sem segundas intenções, só boas conversas sobre problemas de escola e festas. Carregadas de emoticons e/ou risos com razão de coisas sem lógica. 

Um dia me falaram, com um ar surpreso, o quanto eu tenho um coração bom, só por ter a capacidade de perdoar todos que já me machucaram psicologicamente, por não guardar rancor, nunca... Tenho orgulho de mim em relação à isso. Talvez, por isso, eu o queira sempre muito bem. Pode soar como falsidade para uns, mas o Voluntário sabe que eu sou realmente assim; e com ele entendendo, ninguém mais precisa compreender.


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