"Mas que diabos eu estou fazendo aqui?". Foi o único
pensamento alto que consegui ter quando estacionei em frente à casa amarela e
grande do meu ex, o Caíque. Acelerei, segurei firme a direção e saí vagando
pelas ruas do Rio de Janeiro sem rumo, sem destino, só com minhas lembranças
teimosas em quererem borrar o meu rímel novo. Fiquei papeando com a Taylor
Swift no rádio enquanto as árvores pareciam me observar do lado de fora do meu New
Beetle azul claro. Pensando como que um simples boato de tamanha falsidade
consiga destruir um amor, um romance ou quem sabe só um tal lance. Dez meses é
muita coisa; em dez meses acontecem muita coisa... E nada pode ser passado
despercebido assim. Nada!
O que eu mais queria naquele dia era
que o Caíque me ouvisse, mas nem mensagem ele queria trocar comigo, quem
dirá uma conversa olho-no-olho. Então fui pra casa buscar um pouco de
sofrimento gratuito no meio de tantos filmes de comédia romântica misturados
com os de pornô-gay do Marcello. Quase me esqueço que divido apartamento com um
homossexual muito do safado e que é melhor do que ninguém na hora
de pregar a lei do desapego - isso que dá stalkear a Isabela
Freitas 24 horas.
Não sei os outros, mas eu quando
"estou na pior" procuro por comida. Vulgo: porcarias. Parei na
lojinha de conveniência do posto de gasolina ainda um pouco longe de casa.
Comprei sorvete, chocolate, donuts e até um ovo de páscoa infantil (adoro os
brindes). Foi ao som de John Mayer que chorei comendo aquelas rosquinhas
engordativas, os meus queridinhos dunuts, enquanto dirigia de volta para
casa.
Música vai, música vem.
Cheguei.
Quanta paz, senhor. Como eu amo a
minha casa. Como eu adoro a companhia da Valentina no sofá – mesmo soltando aqueles
benditos pelos, eu adoro. Eis que o Marcello sai do banheiro enrolado numa
toalha preta e cantando com todo gosto e sedução: "EU SEI QUE EU SOU,
BONITA E GOSTOSA E EU SEI QUE VOCÊ, ME OLHA E ME QUÉ-EEER, EU SOU UMA FERA DE
PELE MACIA, CUIDADO GAROTO EU SOU PERIGOSA!", com uma voz afinadíssima de
dar dó do de qualquer chuveiro.
–Sossego nessa casa, please!
– Gritei, jogando a bolsa grande e branca no chão enquanto chaveava a porta
logo atrás de mim.
–Bisha,
nem sabia que você tava aí! Faz tempo que chegou? – Perguntou ele enrolando uma
toalha vermelha na cabeça, acreditando mesmo que há cabelo o suficiente para
segurar a "marmota" enquanto vinha rebolando em minha direção.
–Até que enfim Mama, consegui
chegar...
–Gente quié isso,
parece que foi é assaltada, credo Monalisa o que aconteceu?
–Eu não fui assaltada, eu só... – Antes que pudesse terminar a explicação, o Marcello me interrompeu com sua curiosidade acompanhada com uma dose de ansiedade.
–Foi espancada? Ameaçada? Perdeu o
emprego??? – O desespero batia na cara dele e voltava para a ponta da língua – Conta looogo, minha fia!
–Então cala a boca né Marcello?! Não
foi nada disso. Eu passei o dia sem receber uma ligação ou mensagem do Caíque.
Não o vi online no
Facebook e não teve nenhuma foto nova no Instagram dele que deduzisse algo ou
um lugar, nenhuma... Obtive notícias dele através de amigas que temos em comum,
elas disseram que ele ainda tá bastante chateado comigo e com o que lhe
contaram antes de ontem; mas me deram a esperança de que talvez eu ainda possa
correr atrás do meu ex-ainda-amor já que me disseram ter visto ele no bar de
sempre tomando um chopp sozinho e
dispensando qualquer olhar oferecido que o tentasse atingir com uma carinha
triste e abatida. Ou seja: ele ainda pensa em mim o bastante pra não querer se
envolver ou cair na noitada com alguma outra qualquer.
–Hm... É, tem lógica. Mas amiga,
você não deve ficar assim não! Mona, você sempre foi a loira mais cobiçada da
cidade, das festas, de tudo! Eu sei que esse coraçãozinho abatido ainda ama
aquele boy magia, mas minha diva, você não é mulher de sofrer pelos
cantos por um amor inacabado e esse Caíque pode ter toda a certeza que precisar
para acreditar de que ele não vai ser o primeiro a lhe fazer esse mal; de que
ele não tem essa moral toda para botar minha melhor amiga numa situação dessas!
–Obrigada por tudo, de coração! Mas
ele já está sendo esse tal primeiro. Mama, de onde é que eu iria trair aquele
homem incrível com um desconhecido, um bêbado inconsequente num bar onde eu sei
que 1/3 dos nossos amigos frequentam? Nunca que eu faria isso! Você sabe né que
eu sou a pessoa que mais odeia traição? Que o meu forte é fidelidade e não
mediocridade, sabe né?!?!
–Todo mundo sabe do seu forte Mona,
todo mundo...
–Então! Como é que aquele babaca
pôde acreditar num boato desse? – Não aguentei, as lágrimas escorreram e o
barulho do meu choro se espalhou num eco profundo e alto no meio do silêncio
total da casa.
O Marcello me abraçou e me deixou um
pouco sozinha o resto da noite para que eu pudesse pôr as coisas em
ordem.
Peguei meu box de FRIENDS,
dei o play no último episódio da temporada em que tinha assistido pela última
vez; coloquei na mesinha de centro as compras que fiz na lojinha de
conveniência do posto e deitei no sofá com a Valentina, devorando todas aquelas
porcarias industrializadas e gostosas. Eis que o telefone toca.
–Oi...? - Minha voz já um pouco
rouca e chorona respondeu ao chamado.
–Oi amor, desculpa tirar conclusões
precipitadas sem antes te ouvir, preciso conversar contigo e não pode demorar
mas nem um minuto.
Eu estava com o cabelo zoado,
maquiagem borrada e cheia de guloseimas ao redor de mim numa noite fria e
melancólica, com os pelos da minha gatinha espalhados pelo meu vestido preto
enquanto a mesma esquentava os meus pés. Não queria que ninguém me visse daquele
jeito. Muito menos o Caíque, mas algo me forçava a querer vê-lo.
–Ah... É que eu tô meio ocupada agora...
Essa conversa não pode esperar? – Por favor, não espere!
–Não. Você tá sozinha?
–Não, o Marcello tá em casa comigo.
–Hm, então vai pra minha. – Opa,
acho que a saudade bateu à porta de alguém...
–Agora? - Perguntei ainda confusa
sobre o que estava acontecendo.
–Agora.
–Mas eu não estou aparentemente
bem...
–Monalisa, esquece sua aparência só
um instante e vem?
–Isso é uma opção?
–Uma obrigação, é falta de educação
deixar alguém o esperando na calçada, menina. – Oi?!
–Hãn? Você tá ai em baixo?? – Como
assim o cara tá na porta do meu prédio me esperando do nada?!
–Desce logo que eu tô te esperando.
–Tá, vou só trocar de roupa...
–Não, querida, esquece isso e
desce.
–Ok.
–Ok.
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Crônicas da Mona
Caramba, adorei <3 Infelizmente, essas coisas não acontecem comigo hahaha :( Mas ficou ótimo o texto, parabéns!
ResponderExcluirhttp://adioshillebrand.blogspot.com.br/
Amei esse conto *-*
ResponderExcluirPrincipalmente a conversa da Mona com o Caíque!!
Quero mais!!
Tecido_Doce
Ana, difícil mesmo acontecer com a gente... e eu tento trazer isso pros contos da Mona: o possível dentro do difícil. Que bom que gostou! ^^ | Oi Wandyel, muito obrigada pelo carinho, toda semana tem crônica nova da Mona, vou passar no seu blog avisando quando sair a próxima!
ResponderExcluirAmei muito. A sua escrita é leve, digna de comédias românticas! Convido você para participar de uma tag onde divulgo um texto de blogueiras super talentosas como você. Para participar, siga as intruções desse post: http://deliriosdebloom.blogspot.com.br/2013/04/voce-no-delirios-de-bloom.html
ResponderExcluirwww.deliriosdebloom.blogspot.com