20/02/2014

Somos sentimentais demais para falar de amor


– Oi, onde você tava?
 Oi Dieni! Eu estava na lavraria, comprei um livro pra ti, se chama Nuvem Linda, achei a tua cara, lembrei logo do teu blog.
 Sério?! Nossa, muito obrigada! Você sabe como eu fico sem jeito com presentes e elogios, né?
 Sei sim, relaxa. Eu fui na Cultura pra encontrar Ela, a gente marcou de se ver pra esclarecer tudo um pro outro.
 E aí? Deu em alguma coisa ou não foi uma conversa muito produtiva?
 Até que deu em algo sim... Ela me perdoou, me entendeu e voltamos.
 Ficando?
 Namorando. Decidi arriscar. Tudo ou nada dessa vez.
 E esse rótulo é definitivo dessa vez? Tô cansada de ti ver choramingando pelos cantos, sofrendo horrores por amores que nem te completar completam, quem dirá transbordar.
 Eu não sei Dieni, Ela tá tão mudada, me tratou bem até, estranhei um pouco mas gostei daquele carinho todo. Só que eu ainda tô quebrado por dentro. Minha cabeça ainda dói e meu coração continua sem pedaços. Nosso caso me ajudou a se reerguer, mas por um lado eu voltei pra estaca zero.
 Santiago...
 Eu sei.
 Não, não sabe. Esse filme já se repetiu milhares de vezes. Quando tudo parece estar bem, quando você está começando a melhorar, Ela volta pra bagunçar teus sentimentos mais uma vez. Ela fez isso comigo também, então posso dizer que te entendo perfeitamente e sei mais ou menos como dói.
 Ela acha que é Ana no total.
 Tô sabendo.
– Ela assina seus textos como Ana.
 Eu sei.
 Ela... ela deu forma à Ana!
 Eu vi.
 Você escreve há tempos, sabe como é criar um personagem, como é dar vida pra aquele tal alguém. Dieni, você sabe como é amar um personagem, não sabe? Eu sei que sabe!
 Eu sei, Santiago. Eu criei a Mona, o Caíque, o Marcello e a Valentina, e eu amo e cuido de cada um deles como se fossem eu.
 Exato! Como ela pôde roubar a minha criação? E ainda criar uma imagem pra minha Ana? Aliás, a tua imagem...
– Também fiquei bem surpresa com isso, já que ela me odeia tanto, por que diabos ela quis criar alguém semelhante à mim? Sinistro isso aí.
 Ela disse que é por causa das amigas dela da Noruega, que são a maioria ruivas.
 Que seja, ruivas são lindas, convenhamos. A Ana até que deve ser gata.
 É, convenhamos. Não gosto do fato dela ter incluído outros personagens na vida da MINHA personagem. E detestei o que ela fez com o meu nome. Além de roubar a minha obra, ainda quer me fazer de vilão da história? Tenha santa paciência! Eu fui o melhor homem pra ela, o melhor que eu consegui ser. Do meu jeito errado mesmo. Você já viu a confusão que está agora? 
 Verdade, é um absurdo! E outra, plágio é crime.
 E tu acha que eu não sei, é? Eu quero deletar isso da minha vida, quero esquecer tudo.
 Passado não se deleta, mas o futuro se modifica.
 Então eu quero esquecer Ela no presente pra ter um pouco de sossego no Amanhã.
 Perfeito. E vem cá, que história é essa de não contar tudo? Por que nos desabafos dela só aparecem a parte em que ela sofreu? Cadê as coisas ruins que ela fez pra nós dois? Isso ninguém investiga!
 Exato, “isso ninguém investiga”. Investigar é tão complicado assim? Não, né? Bom, você sabe como Ela é. Tu foi da sala dela, foi a melhor amiga que ela poderia ter, sabe de muitos segredos dela. Tu a conhece muito bem. E outra, eu sei que errei. Nunca na minha vida iria negar um erro. Certo. Fui filho da puta por alguns dias. Ela também não foi algo tão bom. Ana não é uma pessoa totalmente boa, como ela descreve. Não que seja toda ruim.
 Ela é incrível...
 Em que aspecto?
 Em virar o jogo.
 Prossiga.
 Ela sabe manipular bem, Ela é uma Blair. Me lembro que ano passado, logo depois da nossa briga, bem depois do meu aniversário, tudo parecia ter voltado ao normal certo. Digo “normal certo” porque o nosso antigo “normal” era errado, ela não me trata da mesma forma que eu a tratava. Tinha os momentos bons, claro. Mas entre um momento e outro havia chateações, eu me magoava muito com as brincadeiras malvadas dela e sempre aguentava tudo calada, com medo de dizer algo que a magoasse. Olha só... me magoam e eu tenho medo de magoar de volta, sou uma boba mesmo.
 Você me contou isso naquele dia, mas continua.
 Então, depois da primeira semana pós-briga, ela voltou a agir de forma chata, voltou com as brincadeiras de mau gosto e com as ignorâncias. Às vezes eu acho que esse seja mesmo o jeito dela, sabe? Talvez ela nem perceba as merdas que fala e faz, mas mesmo assim, isso magoa muito. Então eu briguei com ela mais uma vez, e decidi me afastar.
 E ela voltou...?
 Voltou.
 Acho que ela tem medo de se sentir sozinha e quer sempre ter toda a atenção ao redor dela. Quando alguém se afasta, ela corre atrás.
– Exatamente o que ela está fazendo contigo agora!
 Sim! Eu não quero mais isso. Ela tá acabando comigo.
 Ela já me fez se sentir assim, meu amigo. Mas mesmo com todas essas decepções e afins, eu não sinto ódio dela. Diferente do que ela me disse uma vez, eu não quero que ela morra.
– Ela te queria morta?!
 Queria. Quer. Sei lá.
 Poxa, que “melhor amiga” hein...
  Melhor amiga? Que nada! Ela me considerava uma “irmã”.
 Bela irmandade essa.
 Santiago, ela não tem noção nenhuma do peso de uma palavra. Talvez um dicionário seja uma ótima opção de presente no aniversário dela.
 Ah, em falar em aniversário... Ela respondeu aquela tua homenagem no instagram?
 Tu jura, né? Cara, ela ignorou total. Talvez não tenha visto...
 Tu jura né, Dieni?! Deixa de ser ingênua, é óbvio que ela viu, ela tá o tempo todo com aquele celular na mão, e outra, alguém teria falado com ela sobre isso.
 Verdade. Mas tá tudo bem. Naquele dia eu tava tão de bem com a vida (e com Ela). Eu tava feliz.
 Eu lembro. 
 Obrigada, tá?
 Eu que te agradeço. E desculpa por toda essa confusão. 
– Claro que não! Não precisa se desculpar, como você mesmo disse: nós não fizemos nada de errado. Santiago, ela te esnobava, que razão ela tem em querer achar ruim o que a gente sentiu? Cara, era amor. É amor! Eu te amo, você é um dos meus melhores amigos, a forma como nos aproximamos foi linda, sincera. Nós somos sinceros com nossos sentimentos.
 Nós escrevemos.
 Nós lemos, escrevemos, assistimos e ouvimos as mesmas coisas que outras milhares de pessoas nesse mundo. Mas nós sentimos coisas diferentes delas. Nenhuma dor é igual, nenhuma dor pode ser medida, e muito menos ser escrita e sentida pelo leitor. Nenhuma dor é recíproca. O que você sente, eu sinto de forma diferente. É a vida.
 Mas naquelas semanas nós sentimos algo semelhante. Foi bom.
 Foi muito bom.
 Você me fez rir. E tudo acabou de uma maneira até mais linda do que quando começou.
 Somos escritores.
 Nós sentimos muito onde há de menos.
 Fazemos um baita drama onde não há nada.
 Insistimos tanto em algo pra desistirmos na hora errada. É, somos escritores.
– As pessoas acham que nos entendem. Elas acham que... Que sei lá, elas acham muito.
 Saudades dos tempos de certezas. Saudades também de quando as pessoas tinham medo de escrever, e principalmente de quando escreviam corretamente.
 Nossa, que saudades disso aí!
 Somos malvados por querer corrigir todo texto errado que lemos?
 Talvez.
– Sabe, eu só quero a minha Ana de volta... Aquela tal de Ana que não tinha imagem, que era só personalidade sem face. Que me fazia continuar na busca por um amor bom pra mim, por uma mulher que fosse digna desse nome. Sabe? Alguém que fosse uma verdadeira Ana.
 Gosto dessa tua forma de misturar a personalidade de todas mulheres pelas quais tu já se relacionou em um ser só. Um ser “luz”, pode-se dizer?
 Acho que pode.
 Mas Santiago, e a Maria?
 Maria está bem. É complicado ter que olhar para ela todos os dias sem saber o que passa naquela cabecinha. Eu gosto muito dela, eu amo aquela mulher.
 Acho a Maria tão legal, ela tem alguns traços parecidos com Ela.  
 É minha rainha inconstante. Acho que, apenas ela, poderia fazer tudo que está acontecendo. Entende? Eu não ligo. Ela me dá forças. Você me dá forças também.
 Pessoas loucas são lindas.
 Ela é linda.
 Conversei com ela semana passada, ela estava com uns problemas, por isso agiu daquela forma. Releva, vai?
 Relevo. Só não sei se levo.
 Você já levou tanta coisa irrelevável à diante.
 Talvez por isso nunca tenha me sentido suficiente pra mim mesmo.
 Talvez.
– Eu quero sumir. Dieni, eu preciso sumir. Me tira daqui. Eu to chorando de ódio, de agonia e de tristeza. Porra, eu tava tão feliz!
 “Nenhuma felicidade é duradoura, assim como toda tristeza é passageira.” Li isso em algum canto uma vez.
 Vamos sair sábado?
– Tenho compromisso, desculpa.
 Sem problemas. Posso te ligar?
 Sempre. Eu te amo, Santiago. Não fica assim, por favor. Ignora...
– Eu também te amo. Ah, ela falou de você em alguma “carta”.
 Sério?! Que estranho, eu tava tão quieta na minha. Por que ela quer revirar o passado agora?
 Ela quer mostrar que ainda está aqui. Que não esqueceu de nada, nem entendeu.
 Querer não é poder! A minha vida tá sendo tão perfeita no momento, eu estou tão feliz, tá tudo dando certo nos estudos, no blog e no amor... eu não tô nem aí pra o que ela tá falando de mim.
 Gosto assim. Não liga, ela quer te atingir.
 Começou com o cabelo e as sardas, qual será a próxima arma?
 Não faço ideia. Se souber me avisa, porque eu vou seguir o teu conselho e vou sumir da vida dela. Eu não quero mais sofrer. Eu me senti péssimo quando Ela disse que havia terminado o namoro com aquele cara pra poder ficar comigo de vez.
 Eu não consigo entender isso aí, naquele dia do bazar, me lembro que ela respondeu pra ti que o beijo não tinha significado nada pra ela.
 Já pra mim significou tudo e mais um monte.
 Sentimental pra caralho.
 Cala a boca, tu também é.
 Eu odeio gostar disso.
 Isso é uma droga, e eu te entendo perfeitamente.
 A gente se entende.
 Perfeitamente.
 Santiago, preciso ir agora, a gente se fala mais tarde. Se cuida.
 Tudo bem, beijo.

...

 Ei Ruivinha, exclui meu blog. Mas relaxa, eu salvei os textos mais importantes.
 SANTIAAAAAAAAAGO!!!
–  Calma, Ruivinha! Eu precisava.
–  Explica.
– Aquele canto estava tão triste. Nunca reparou? Chorei por amores de dois mil e onze até ontem. Eu lembro de, toda vez que precisar falar sobre algo que não deu certo, ir até lá e escrever pencas mas se eu estava feliz, simplesmente ia viver. Tudo ali era feito de sentimentos ruins. E tudo ali me lembrava muito Ela.
– Ainda está na mesma?
– Lembra Daquela? Que eu fui ver no dia que fui te visitar naquele colégio?
– Lembro.
– Estão se falando e estão amigas.
– Isso é bom? Quer dizer, Duas ex. Sua orelha deve ficar vermelha o tempo todo, toda hora.
– Eu não sei se é bom. São dois casos mal resolvidos da minha vida. Uma é totalmente diferente da outra. Não sei se vão se dar bem juntas. Se acabarem ficando amigas mesmo, ótimo. Eu mandei uma carta pra ela. Pedi perdão sincero. Por tudo e por nada. Fazia tanto tempo que não escrevia com esse destinatário.
– Por que isso? Escreve sobre Maria toda semana quase, escreve sobre Lorelai, ousa escrever sobre Ana até. Porque nunca escreveu à ela, que namorou contigo por mais tempo e esteve com mais sinceridade?
– Ela era tudo que eu tinha. Se resumia no bom e no ruim. Ela dava sentido a tudo sem noção que eu fazia, sabe Ruivinha? E eu não sei mas quando o foco era escrever sobre ela, nunca saia tão bonito quanto os outros. Sempre saia normal. Aqui dentro tem saudade espalhada por todo lugar, dificulta.
– Eu entendo. Terminei com Aquele cara quase na época que você terminou com a Sua. É complicado isso. É difícil lidar com fins de relacionamento. Até hoje, eu quero a amizade daquele moço.
– Exato. Deveria ser obrigatório duas coisas na vida: Aceitar perdão e beber coca cola.
– Que coca cola, Santiago. Olha no que tá pensando. Mas sobre o perdão eu concordo.
– O mundo é feito de chances e mais chances.
– Você me daria outra chance?
– Quantas fosse preciso.
– Eu te magoei?
– Nunca. Eu te amo com o coração por isso.
– Eu queria que as coisas fossem mais simples pra você. Compreende?
– Eu queria que, desse pra apagar o passado. Seria legal começar do zero, sentir aquela sensação de ventre materno saindo na rua. 
– Me apagaria? Apagaria Maria?
– Lógico que não. Apagaria meus erros. Só a dor deles, não a lembrança. Preciso ter algo pra me lembrar de não comete-los de novo.
– Sente raiva de "Ana"?
– Ah, raiva não sinto. Sinto tristeza. Não chama mais ela assim. E que saudade tenho desse nome.
– Eu sei.
– Tô te desenhando.
– Mas você nunca soube desenhar.
– Verdade, virei a noite fazendo isso, se soubesse, viraria a vida.
– Você é louco.
– Você não é normal também.
– Tenho que ir. Um beijo. Se cuida, Santiago. Às vezes sinto medo de te deixar só.
– Eu sinto medo disso também. Minha sanidade não lida muito bem com solidão. Eu te amo, Ruivinha. 
– Eu te amo, Santiago. 
 


5 comentários:

  1. Gente, coisa linda <3 e o diálogo da imagem no topo é perfeito!

    http://www.pedrasnajanela.com/

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  2. to acompanhando o blog dela só pra ler os textos dela, diz pra ela escrever direito Di, é sério alguém precisa avisar que ta tudo uma bosta enorme e errado. não liga, ignora pq vc é maior que isso e eu sei o teu potencial e se tu é amiga da bianca/santiago deve ser pq ela é uma boa pessoa assim como vc, entao relaxem que o bem sempre vence o mau!

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  3. não deixe o samba morrer

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