Tudo que eu tenho, tudo que eu sou

Hoje cedo tive mais um daqueles meus ataques de pareidolia. Sentei no batente da janela do meu quarto para observar o – meu – céu, o mesmo céu que amanhece e joga raios de luz sobre os lençóis da minha cama bagunçada todas as manhãs. As nuvens, quando passam, me mostram formas e com elas revivo lembranças. Cada forma e tamanho formam um pensamento aqui dentro. Então eu parei e pensei sobre todas as coisas que tenho, sobre todas as coisas que eu sou.

Eu. Dienifer Reis. Nada mais e nem ninguém.

Sabe, eu gosto de quem sou. Gosto da pessoa que me tornei e gosto mais ainda de evoluir sempre para chegar o mais perto do que eu idealizo um dia ser. Eu gosto de mudanças, mas não das repentinas. Eu gosto do meu quarto verde-turquesa. Gosto do blog que criei e de como meus sentimentos e pensamentos ficam vulneráveis uma vez expostos aqui através dos meus textos. Gosto de como eu gosto de escrever. Gosto de fuscas azuis. Gosto de crianças prodigias nos pensamentos e também das brincalhonas. Gosto das músicas Folks que coleciono no meu fone de ouvido. Gosto do modo como as margaridas brancas conseguem ser mais úteis em todas as horas, até mais do que as rosas. Gosto do meu violão sem cordas, do meu mural de fotos na parede verde, da minha vela com luzes embutidas, das minhas revistas empilhadas e dos livros que leio e guardo na Biblioteca da Minha Vida. Gosto de ter nascido no dia mais frio de 1997 só pelo fato de eu amar o frio, e gosto do meu ódio por pessoas frias. Gosto do modo como me apaixono fácil e de como esqueço de alguém dificilmente. Gosto das minhas miniaturas de sonhos de consumo, mas eu gosto mesmo é de olhar para as que eu já consegui conquistar e sorrir. Gosto do meu coturno marrom e das minhas botas. Gosto das músicas do Ed Sheeran. Gosto do esmalte preto nas minhas unhas, e gosto também dos diversos anéis e pulseiras que parasitam meus dedos e mãos todos os dias.

Eu amo meu cabelo ruivo emaranhado pela manhã, e adoro sair com ele assim: volumoso, ondulado e despenteado. Aprendi a gostar de ter 1,70 de altura e a adorar meu peito proporcionalmente pequeno. Eu amo meu lado moleque totalmente atrapalhado, assim como adoro o meu poder de mulher. (Sabe? Aquele que todas nós temos mas que nem sempre usamos, ou que usamos de mais até, vai saber). Eu amo minha teimosia tanto quanto odeio o meu orgulho. Gosto do modo como sei esconder toda a minha sensualidade e taradice por trás da minha personalidade tímida e meiga. Gosto também de ver as pessoas me julgando ser santa e pura por ser quieta; todos os olhos podem me olhar, mas nem todos realmente conseguem me enxergar. Amo os amigos que a vida me deu e adoro as histórias pelas quais já vivi com cada um. Adoro meu jeitinho tímido e ao mesmo tempo tagarela de ser. Eu gosto de pensar sempre mais alto e decolar os pés do chão, feito um pássaro que sempre voa para o norte, embora seu lugar seja no sul. Gosto do meu jeito melodramático e exagerado que quer sempre positividade e sinceridade. Gosto de como faço questão de contrariar minha mãe quando o assunto é louça pra lavar. Gosto das roupas jogadas no chão do meu quarto. Gosto da minha idade mental, mesmo que ela me faça envelhecer quinze anos. Gosto também de como as pessoas duvidam quando digo que por dentro tenho mais de trinta; a minha mãe principalmente, acho que no fundo é só medo de aceitar que eu estou em fase de crescimento mental e que em breve esse pássaro aqui irá para um lugar mais longe num bater de asas. Eu gosto de cores; esse mundo cinzento não foi criado para mim, e nem eu para ele.

Eu gosto dos meus sonhos, dos meus pensamentos e da bondade que carrego comigo. Margarida quando arrancada as pétalas perde a graça e aquela história de “bem me quer, mau me quer” se transforma numa espécie de sorte. Margarida boba. Bobona. E por ser tão boba, sempre será boa.

Tudo que eu tenho é fruto de tudo o que eu fiz. Tudo o que eu sou é a causa de tudo o que eu aprendi.